Infelizmente, o Transtorno de Acumulação (TA) é um tema pouco estudado aqui no Brasil e ainda é quase que totalmente desconhecido.
Pouco se ouve a respeito e muitas vezes conhecemos alguém ou, até mesmo, intitulamos uma pessoa de acumulador sem saber de fato se ela é.
Se na área da psicologia pouco se fala aqui no Brasil, imagina no meu campo como profissional de organização.
Desde o início do meu trabalho como personal organizer, pude perceber que não conseguiria ajudar essas pessoas se eu não me especializasse para tal tarefa.
Como já era de se imaginar, não achei nada em português. Assim, comecei os meus estudos lá nos EUA, lendo artigos e livros sobre o tema.
Com o passar do tempo, encontrei o Institute for Challenging Disorganization (ICD) e me tornei um membro para poder de fato me especializar.
Hoje, tenho o orgulho e prazer de ser a embaixadora do ICD® aqui no Brasil e poder oferecer para todos, os incríveis materiais que antes só estavam disponíveis em inglês.
Dito isso, gostaria de trazer um resumo de tudo que considero mais importante para você.
A palavra “Acumulador”
Essa palavra por si só já evoca a imagem de uma pessoa que vive isolada dos outros dentro da sua casa que é um caos total.
E por que isso acontece?
Isso acontece por causa dos programas de TV, como Hoarders (Acumuladores Compulsivos) que você já deve ter ouvido falar ou assistido.
Nesses programas, só é mostrado os níveis mais graves do Transtorno de Acumulação. Sim… Há vários níveis.
Por isso, acaba se tendo uma visão distorcida dessas pessoas, já que nem todo mundo vive naquelas situações.
Além de fazer com que essas pessoas tenham vergonha da sua circunstância ou não se identifiquem com o problema.
Apesar disso, esses programas são ótimos para trazer o assunto à tona e para facilitar o conhecimento e a compreensão.
Por mais que a gente não tenha outra palavra além de acumulador(a), eu te convido a não usar essa palavra.
O que é o Transtorno de Acumulação?
A característica principal do Transtorno de Acumulação é a dificuldade persistente de descartar ou se separar dos seus objetos (não importa o valor dele).
A pessoa também sente uma enorme angústia e ansiedade quando é confrontada e “forçada” a desapegar-se ou de se desfazer das suas coisas. Como é extremamente doloroso para ela se livrar desses bens, ela nunca se desfaz.
Isso acontece por diversos motivos, tais como:
- Acreditam que seus objetos são únicos ou serão necessários em algum momento no futuro
- Os itens têm um grande significado emocional, porque servem como lembretes de momentos felizes e de pessoas
- Sentir-se mais seguro quando cercado pelas coisas
- Não querem desperdiçar nada
Vale ressaltar, que o acúmulo não leva em conta o valor real que cada objeto tem, fazendo com que se acumule diferentes tipos de coisas.
Dessa maneira, quem está de fora acha que tudo é lixo e que só precisa jogar tudo fora para resolver.
Além disso, o acúmulo geralmente cria péssimas condições de vida, fazendo com os ambientes percam as suas funções.
É comum que as bancadas, pias, fogões, mesas e praticamente todas as outras superfícies da casa estejam cheias de pilhas.
Níveis da acumulação
Segundo a Escala Desordem-Acumulação do ICD®, há 5 níveis de acumulação e cada nível avalia o espaço em que a pessoa está vivendo.
Em alguns casos, a acumulação pode não ter impacto grande na vida da pessoa. Porém, em outros, afeta seriamente a qualidade de vida.
Lembre-se que uma casa não vai ficar desorganizada, cheia de objetos e perder a função dos espaços da noite para o dia. O processo até chegar em um dos níveis mais graves é gradual.
Não confunda com a Desorganização Crônica
A desorganização crônica é definida por 03 pontos:
- A desorganização persiste por um longo período de tempo;
- Frequentemente impacta negativamente a qualidade de vida da pessoa, e;
- Volta a aparecer depois de várias tentativas de autoajuda.
A desorganização crônica pode estar presente com outras condições baseadas no cérebro, tais como: TDAH, ansiedade, depressão, transtorno de acumulação, transtorno do estresse pós-traumático, traumatismo craniano, entre outras.
Por esse motivo, toda pessoa que sofre do Transtorno de Acumulação é uma desorganizada crônica, mas nem todo desorganizado crônico é afetado pelo TA.
É verdade que o desorganizado crônico tem grandes desafios em manter a sua casa limpa e organizada.
Só que esse desafio não está ligado a dificuldade persistente em se desapegar das suas coisas.
Características e comportamentos comuns do Transtorno de Acumulação:
- Dificuldade em se desapegar dos seus pertences
- Vivem no futuro ou no passado
- Sempre tem algum objetivo ou propósito para cada item
- Dependem emocionalmente dos seus objetos
- Personificam os seus pertences
- Se isolam de todos à sua volta, se escondendo e cortando o contato
- Param de receber visitas em casa, por causa da vergonha que sentem
- Estão sempre comprando ou adquirindo novas coisas
Complicações
O transtorno de acumulação pode causar várias complicações.
Certamente, os principais problemas são oriundos da desordem do ambiente.
Por isso, há riscos de queda, lesões, provocar um incêndio, contaminações, perder documentos importantes e de ficar preso na bagunça, caso ela caia em você.
Entretanto, também pode causar conflitos familiares, já que não enxergam o acúmulo como um problema. Além de solidão e depressão por causa do isolamento social.
Causas
Não se sabe ao certo o que causa o transtorno de acumulação, mas os pesquisadores identificaram vários fatores de risco.
Além disso, a acumulação é mais comum entre indivíduos que possuem um membro da família com o transtorno.
As lesões cerebrais também são apontadas como causa, por desenvolveram sintomas de acumulação em alguns pacientes.
Sem sobre de dúvida, podemos ver que eventos estressantes estão muito relacionados ao transtorno. Já que a morte de um ente querido e abusos durante a infância podem desencadear ou pioras os sintomas.
Como saber se alguém tem o Transtorno de Acumulação?
Antes de mais nada, preciso te dizer que somente um profissional da área da saúde mental pode dar um diagnóstico sobre o transtorno.
Entretanto, eu separei algumas perguntas que normalmente são usadas durante o diagnóstico.
- Você tem problemas para descartar, reciclar, vender ou doar coisas das quais a maioria das pessoas se livraria com facilidade?
- Devido ao número de coisas que você tem, quão difícil é usar os cômodos e as superfícies da sua casa?
- Com que frequência você compra itens ou adquire itens gratuitos mesmo não precisando ou não tendo espaço suficiente para guardá-los?
- Até que ponto a bagunça na sua casa interfere no trabalho, na sua vida social ou familiar?
- Quanta angústia esses sintomas te causam?
Se você respondeu “Sim” para a primeira pergunta e para as outras, você respondeu coisas entre “muito”, “quase sempre”, “bastante”, eu te aconselho a buscar uma ajuda profissional.
Caso você enfrente o transtorno de acumulação, não se constranja em pedir ajuda e muito menos tente negar de que existe um problema.
Viver dessa maneira não é nada agradável, além de gerar muito estresse para você mesma e para quem estiver ao seu lado.
Logo, encare que é preciso mudar para o seu próprio bem e tenha coragem de pedir ajuda.
Recomendo fortemente que você procure um profissional de Terapia Cognitiva Comportamental (TCC) que entenda sobre o assunto. Já que essa é a terapia mais indicada para o tratamento do transtorno.
Do mesmo modo, indico que você procure um profissional de organização igualmente capacitado.
Como encontrar o profissional de organização ideal para te ajudar
Quando as pessoas me procuram buscando ajuda para esse problema, geralmente, se sentem constrangidas com a situação em que estão vivendo.
Por isso, muitas não querem nem falar no assunto… Ou então, chegam para mim e falam “Ai, Cintia, tenho até vergonha de mostrar a minha casa para você…”
Mas, é exatamente isso que eu faço: ajudo pessoas com grandes dificuldades em se organizar!
Até porque, eu, como profissional, não estou aqui para te julgar e muito menos para te criticar.
Entretanto, nem todo mundo sabe que existe um profissional que lida com isso e que, consequentemente, irá ajudá-lo.
Mas, preste atenção nisso: nem toda personal organizer é capacitada para ajudar pessoas afetadas pelo transtorno de acumulação.
Por que não? Porque as habilidades e técnicas são totalmente diferentes. O foco maior do trabalho não é o descarte em si e, infelizmente, a maioria só concentra os seus esforços nisso.
Ao perceber essa falta no mercado, eu criei um curso para capacitar outras profissionais de organização. Então, se você quiser que eu te indique alguma personal, é só entrar em contato comigo, tá bom?
Caso já tenha entrado em contato com algum profissional e esteja na dúvida se ele é o certo para você, existe um material do ICD que pode te ajudar.
O título dele é: como encontro o profissional de organização certo para mim. Você encontra esse conteúdo nessa página.
Como ajudar uma pessoa querida
Primeiro, tenha em mente que essa não é uma tarefa fácil e, caso você não tenha jeito, pode acabar gerando uma briga e discussões.
Por isso, é necessário que você reflita se você tem alguns dos traços que mencionarei abaixo.
- Paciência, porque ninguém muda da noite para o dia.
- Empatia e compreensão para que você seja capaz de se colocar no lugar da pessoa para entender as dificuldades que ela enfrenta.
- Respeito já que a pessoa tem o direito de manter os seus pertences, caso assim deseje. Não é porque você considera tal objeto inútil que ela também tem que achar o mesmo. Você deve ser capaz de respeitar o jeito daquela pessoa de ser e pensar, sem querer impor aquilo que você considera como verdade e certo.
- Ser livre de julgamentos, pois ninguém gosta de ser julgado. Quando a pessoa se sente julgada, ela se arma e reage de uma maneira agressiva. Em alguns casos, pode piorar ainda mais o seu apego.
Você precisa entender e aceitar que o Transtorno de Acumulação é sim uma doença. Logo, a pessoa não faz o que faz de propósito ou porque ela queira te irritar e, muito menos, porque ela não se importe com você.
Espero que esse artigo tenha te ajudado a entender e a aceitar o transtorno de acumulação.
Será um prazer te ouvir caso tenha alguma dúvida ou algum comentário.
E precisando de ajuda, não hesite em pedir!
Até breve!
Cintia
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